Como ser um escola amiga da amamentação

Disponibilizar um espaço tranquilo e aconchegante, onde a mãe possa amamentar seu bebê, é um bom começo para colaborar com o aleitamento materno

A Revista Pátio Escola fez uma linda reportagem sobre o nosso projeto. Confira a publicação original, clicando na imagem abaixo, ou leia na íntegra a reportagem aqui mesmo no nosso blog!

revista patio escola

Quando terminou sua licença-maternidade e chegou a hora de voltar ao trabalho, a enfermeira obstétrica Silvia Briani, de São Paulo (SP), começou a procurar uma creche onde pudesse deixar a pequena Mariana, então com 6 meses. Para ela, uma condição era fundamental: poder continuar amamentando a filha e contar com a parceria da escola para isso. Foi então que teve início sua decepção. “Algumas aceitavam que eu mandasse meu leite, outras não. Entre as que aceitavam, todas só se dispunham a oferecer o leite em mamadeira, e não em copinho, como é o mais recomendado para evitar o desmame”, conta Silvia.

Ainda que a legislação incentive a amamentação e determine que as instituições ofereçam condições para que as mães possam oferecer seu leite aos bebês, isso nem sempre ocorre. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é bem claro: “O poder público, as instituições e os empregadores propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade”, prevê o artigo 9º. No entanto, a II Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno, realizada pelo Ministério da Saúde nas capitais brasileiras e no Distrito Federal em 2008, mostrou que a média de tempo de aleitamento materno exclusivo no Brasil foi de 54,1 dias (1,8 meses), quando o recomendado são seis meses, e de aleitamento materno com a inclusão de outros alimentos foi de 341,6 dias (11,2 meses).

Na mesma pesquisa, constatou-se que o início do processo de desmame ocorre precocemente (dentro das primeiras semanas ou meses de vida), com a introdução de chás, água, sucos e outros leites, e progride de modo gradativo. Cerca de um quarto das crianças entre 3 e 6 meses já consumiam comida salgada e frutas. Na faixa etária de 6 a 9 meses, 69,8% das crianças haviam consumido frutas e 70,9%, verduras e legumes.

Depois de conhecer na prática o pouco envolvimento das escolas no incentivo à amamentação, Silvia Briani criou o Projeto Escola de Peito (escoladepeito.wordpress.com), que prepara as instituições para serem um local confiável, servindo de referência no assunto e oferecendo qualidade para continuar a promover o aleitamento materno. “Cabe à escola criar as condições para que a mãe que volta ao trabalho consiga continuar a amamentação, e não tornar esse processo mais difícil do que já é”, diz Silvia. Ela destaca a importância de proporcionar ambiente tranquilo e confortável para realizar a ordenha, se for necessário, correta higienização dos equipamentos e frascos, espaço adequado no congelador para estoque, ambiente de incentivo, motivação e encorajamento às mães.

No início de 2016, Silvia começou a ministrar um minicurso para capacitar os profissionais responsáveis pelos bebês nas creches para que estejam aptos não só a armazenar e oferecer o leite materno corretamente, mas também a entender a importância de acolher e estimular a mãe a continuar amamentando, como contribuição importantíssima para o bom desenvolvimento da criança. A escola que participa da capacitação recebe um certificado e um “selo simbólico”, que a identifica como Escola de Peito. A ideia inclui cadastrar as escolas participantes em um site e divulgar essa lista para que mães interessadas tenham essa ferramenta de busca.

O projeto oferece ainda suporte para a criação de uma sala de ordenha na escola, que possa atender tanto mães quanto trabalhadoras da instituição, elaboração de material de orientação e apoio para ordenha, armazenamento e transporte de leite materno, entre outras necessidades que possam surgir nas instituições atendidas.

Cumplicidade
Tudo isso já é realidade na Malabares Educação Infantil Waldorf, em São Paulo, a primeira escola a fazer parte do projeto. “O Escola de Peito nos ofereceu fundamentações específicas sobre a amamentação, além da oportunidade de realizar encontros sobre o tema, ampliando esse conhecimento aos pais e amigos interessados”, conta a diretora Marisa Santos.

Na Malabares, o espaço para a amamentação fica no berçário, e a mãe que amamenta tem liberdade de ficar sentada, em pé ou deitada, enfim, da maneira que se sentir melhor. Há um sofá confortável disponível, mas as mães que quiserem amamentar no parque, sob as árvores, podem fazê-lo balançando-se em uma rede. “A ideia é que esse momento seja caloroso e de cumplicidade entre mãe, filho e escola”, explica Marisa.

Hoje a Malabares atende a dez crianças que ainda mamam no peito. Entre as mães, sete amamentam em casa, uma na escola, uma utiliza fórmula e uma envia o leite materno para ser oferecido ao bebê. “Recebemos o leite devidamente envasado e mantemos refrigerado ou congelado, tudo etiquetado e identificado”, explica a diretora. Nos horários indicados pela mãe, o leite é aquecido conforme as orientações recebidas da equipe Escola de Peito e servido à criança.

Amamentar é saúde
Assim como Silvia Briani, a enfermeira Monica Portella, estudiosa do aleitamento materno e dedicada às questões que envolvem o cuidado do materno-paterno-infantil, viu a necessidade de informar e formar os profissionais das escolas para que pudessem contribuir para garantir a amamentação das crianças matriculadas. “Amamentar é saúde e, para fortalecer a cultura do aleitamento materno, as informações precisam estar disponíveis para todos os indivíduos desde a sua formação básica”, salienta Monica. “Por que não trabalhar o tema amamentação nas escolas?”, questiona. Por isso, ela fundou a Associação Portella para Estudo, Ensino e Prática em Saúde (associacaoportella.com.br). Lá, por meio do Projeto Aleitamento Materno na Escola (PAME), são oferecidas estratégias diferenciadas para ensinar saúde no ambiente escolar de uma maneira lúdica e divertida.

Com o mesmo objetivo, em 6 de junho de 2014, a prefeitura de Marília, em São Paulo, tornou-se o primeiro município do Brasil a ter salas de amamentação nos berçários públicos. As salas atendem às mães nos horários estipulados por elas e são locais agradáveis e tranquilos, onde o aleitamento pode ser realizado de acordo com a disponibilidade e a necessidade de mães e bebês. “É muito importante a possibilidade dada às mamães de amamentar os seus filhos ao voltarem a trabalhar, mantendo o vínculo afetivo e nutricional com o bebê”, destaca a enfermeira Sandra Domingues, responsável pelo projeto.

Sandra enfatiza a importância do aleitamento nas escolas para garantir a qualidade alimentar às crianças, além de contribuir com a sustentabilidade e a economia doméstica das famílias, já que se evita a compra de fórmulas e leite fluido, bem como o gasto com gás no preparo desses leites. A amamentação contribui ainda para gerar menos lixo, evitando o descarte de mamadeiras e latas que acabam indo parar em rios e mares, além de colaborar para que haja menor emissão de gás metano, menor índice de crianças internadas, melhor desempenho escolar e menos ansiedade das mães no trabalho.

Oportunidade e apoio
Com tantos benefícios, as mães têm aderido em massa, mais uma prova de que não falta vontade de amamentar, e sim oportunidade ou apoio. É assim na EMEI Nossa Senhora da Glória, que oferece uma sala de amamentação bem-equipada, além da possibilidade de armazenamento de leite materno para as mães que moram ou trabalham longe e não conseguem ir até a escola para amamentar. Todo o processo é supervisionado por profissionais treinados. Além do treinamento oferecido pelo Banco de Leite Humano da Secretaria Municipal de Saúde, para que as mães tenham o auxílio necessário quando precisarem ordenhar o leite, os profissionais também recebem orientações da equipe do curso de fonoaudiologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Conforme a diretora da EMEI, Joelma Parra, o apoio da escola nesse momento é essencial para o desenvolvimento do bebê, pois evita o desmame precoce. “Os profissionais das creches podem colaborar com a amamentação promovendo rotinas sistematizadas e de acolhimento às mães, com condutas de incentivo para que elas possam ter acesso ao ambiente de amamentação sempre que necessário e promovam o armazenamento do leite extraído”, esclarece a diretora.

No município de Maringá (PR), todos os centros municipais de educação infantil (CMEIs) dispõem de um espaço reservado para a amamentação. Atualmente, 29 mães vão aos CMEIs para amamentar.

O município também criou um grupo de servidores responsáveis por sensibilizar e capacitar os profissionais que trabalham nas unidades, garantindo a qualidade no atendimento. De acordo com a gerente da educação especial e apoio pedagógico interdisciplinar, Lucia Catto, todas as unidades estão equipadas e contam com uma equipe preparada para receber o leite ordenhado e enviado pelas mães. Ao todo, dez mães enviam seu leite para os CMEIs.

Questão político-pedagógica

Segundo Fabiana Swain Müller, membro da coordenação nacional do IBFAN Brasil, que organiza o Encontro Nacional de Amamentação, além de profissionais treinados, a instituição deve ter um espaço físico preparado para receber o leite materno. “A escola precisa estar capacitada para isso, de modo que o leite possa ser armazenado, aquecido e oferecido à criança com segurança”, ressalta.

Fabiana esclarece que o incentivo, a promoção e a proteção à amamentação devem estar explicitados no plano político-pedagógico da escola. “Uma escola amiga da amamentação deve fornecer apoio às mães, informando sobre as técnicas de ordenha da mama, transporte e conservação do leite materno”, destaca. Ela ainda considera que as escolas deveriam adotar boas práticas de manipulação de alimentos, incentivar a alimentação saudável e o uso de alimentos minimamente processados, substituir o uso de mamadeiras por copos, pratos e colheres.

Para a enfermeira Sandra Domingues, responsável pela implantação das salas de amamentação nas escolas da prefeitura de Marília (SP), uma sala de amamentação adequada deve ser climatizada, oferecendo recursos como poltrona ou cadeira confortável e com braço, mesa de apoio, lavatório para higienização das mãos, geladeira duplex para o armazenamento do leite materno, termômetro para registrar a temperatura do leite a fim de garantir a qualidade do leite humano ordenhado e identificado.

O leite deve ser mantido refrigerado até o momento de oferecê-lo à criança, aquecido em banho-maria, com o fogo desligado, e o ideal é que não seja oferecido em mamadeira para não favorecer o desmame devido à confusão de bicos. Outro aspecto importante é permitir que a mãe compareça a qualquer horário para amamentar e incluir o tema amamentação entre as atividades com as crianças. “Os gestores podem implantar um ambiente favorável para a amamentação nas escolas, permitindo que a cultura da amamentação faça parte de sua instituição, precedendo a cultura da boa alimentação”, enfatiza Silvia Briani.

Nesse sentido, Silvia considera fundamental investir na capacitação das equipes, para que sejam multiplicadoras, abordar o tema da amamentação pelo viés pedagógico, favorecer o ambiente de amamentação e ordenha de leite para suas funcionárias, trazer para o espaço da escola rodas de conversa sobre este e outros assuntos relacionados.

Para Monica Portella, incluir as famílias no processo faz uma grande diferença. “É fundamental conscientizar sobre os malefícios do uso de chupetas e mamadeiras”, destaca. “Além disso, a escola deve auxiliar as mães na manutenção da lactação, orientando quanto à forma de ordenhar, armazenar e transportar o leite coletado”, explica a enfermeira, que ressalta a importância de a escola não oferecer fórmula infantil aos bebês e, após o sexto mês de vida, fornecer alimentos complementares que sejam saudáveis.

Silvia Briani alerta para o fato de que a sociedade não está mais preparada para conviver com a amamentação, a ponto de ser necessária uma legislação para garantir esse direito. “As pessoas acabam vendo com maus olhos um ato natural, fisiológico e de uma beleza infinita, que é uma mãe amamentando uma criança”, lamenta. Essa cultura costuma refletir-se no ambiente escolar. “O assunto precisa ser tratado com mais atenção a fim de que todos estejam preparados para acolher as mulheres que amamentam”, conclui Monica Portella. Para ela, falta conhecimento legal, técnico e manejo: “Infelizmente, em relação a esse assunto, estamos cercados de mitos, crenças e desinformação”.

 
Crédito da imagem:
Foto: Silvia Briami

Semana Mundial do Aleitamento Materno 2017

waba2017A Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM) é comemorada em todo o mundo durante os dias 1 a 7 de agosto e completa 25 anos em 2017. Essa iniciativa busca desencadear ação conjunta necessária para o apoio e promoção do aleitamento materno. A proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno são os três pilares fundamentais para incrementar e consolidar as taxas de aleitamento materno, tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento.

Em 2016, a WABA iniciou a jornada de 15 anos para alcançar os Objetivos de  esenvolvimento Sustentável (SDGs), vinculando cada um desses objetivos à amamentação.

Vejamos como o Aleitamento Materno está relacionado com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030.

1- Erradicação da Pobreza: A amamentação é uma forma natural e de baixo custo de alimentar bebês e crianças. É acessível para todos e não sobrecarrega os orçamentos domésticos em comparação com a alimentação artificial. A amamentação contribui para a redução da pobreza.

2- Fome Zero: A amamentação exclusiva e a amamentação contínua durante dois anos e além fornecem nutrientes de alta qualidade e energia adequada e podem evitar a fome, a desnutrição e a obesidade. A amamentação também significa segurança alimentar para bebês.

3- Saúde e Bem Estar: A amamentação melhora significativamente a saúde, desenvolvimento e sobrevivência de bebês e crianças. Também contribui para melhorar a saúde e o bem-estar das mães, tanto a curto como a longo prazo.

4- Educação de Qualidade: A amamentação e a alimentação complementar adequada são fundamentais para a prontidão para aprender. A amamentação e alimentos complementares de boa qualidade contribuem significativamente para o desenvolvimento mental e cognitivo e, assim, promovem a aprendizagem.

5- Igualdade de Gênero: A amamentação é o grande equalizador, dando a cada criança um bom e melhor começo na vida. A amamentação é exclusivamente um direito das mulheres e elas devem ser apoiadas pela sociedade para amamentar otimamente. A experiência de amamentação pode ser satisfatória e capacitadora para a mãe, pois ela controla como ela alimenta seu bebê.

6- Água potável e saneamento: A amamentação sob demanda fornece toda a água que um bebê precisa, mesmo com clima quente. Por outro lado, a alimentação de fórmulas requer acesso a água limpa, higiene e saneamento.

7- Energia limpa e acessível: A amamentação implica menos energia em relação às indústrias de produção de fórmulas. Também reduz a necessidade de água, lenha e combustíveis fósseis no lar.

8- Trabalho decente e crescimento econômico: As mulheres amamentando que são apoiadas por seus empregadores são mais produtivas e leais. A proteção da maternidade e outras políticas no local de trabalho podem permitir que as mulheres combinem a amamentação e seus outros trabalhos ou emprego. Trabalhos decentes devem atender às necessidades das mulheres que amamentam, especialmente aquelas em situações precárias.

9- Indústria, inovação e infraestrutura: Com a industrialização e a urbanização, os desafios do tempo e do espaço se tornam mais proeminentes. As mães amamentando que trabalham fora do lar precisam gerenciar esses desafios e serem apoiadas por empregadores, suas próprias famílias e comunidades. Crèches perto do local de trabalho, salas de lactação e quebras de amamentação podem fazer uma grande diferença.

10- Redução das desigualdades: As práticas de aleitamento materno diferem em todo o mundo. A amamentação precisa ser protegida, promovida e apoiada entre todos, mas em particular entre os grupos pobres e vulneráveis. Isso ajudará a reduzir as desigualdades.

11- Cidades e Comunidades Sustentáveis: Nas grandes cidades, as mães amamentando e seus bebês precisam se sentir seguros e bem-vindos em todos os espaços públicos. Quando as crises humanitárias e de desastres acontecem, as mulheres e as crianças são afetadas desproporcionalmente. As mulheres grávidas e lactantes precisam de um apoio especial durante esses momentos.

12- Consumo e produções responsáveis: A amamentação fornece uma fonte de nutrição e sustento saudável, viável, não poluente, sem recursos intensivos, sustentável e natural.

13- Ação contra a mudança global do clima: A amamentação protege a saúde e nutrição infantil em tempos de adversidade e desastres relacionados ao clima devido ao aquecimento global.

14- Vida na água: A amamentação implica menos resíduos em comparação com a alimentação de fórmulas. A produção e a produção de fórmulas industriais levam a resíduos que contaminam os mares e afetam a vida marinha.

15- Vida Terrestre: A amamentação é ecológica em relação à alimentação de fórmulas. A produção de fórmulas implica o cultivo de laticínios que pressiona os recursos naturais e contribui para as emissões de carbono e as mudanças climáticas.

16- Paz, justiça e instituições eficazes: A amamentação está consagrada em muitas estruturas e convenções de direitos humanos. É necessária legislação nacional e políticas para proteger e apoiar as mães e os bebês que amamentam para garantir que seus direitos sejam mantidos.

17- Parcerias e meios de implementação: A Estratégia Global para a Alimentação Infantil e Infantil (GSIYCF) promove a colaboração multi-setorial e pode basear-se em várias parcerias para apoiar o desenvolvimento através de programas e iniciativas de amamentação.

O 25º ano da Semana Mundial da Amamentação em 2017 é trabalhar em conjunto para o bem comum!

Fontes:

Landing Page

https://nacoesunidas.org/pos2015/

http://www.ibfan.org.br/site/

 

Amamentar sob livre demanda. O que é isso afinal?

14641938_551224181746631_5087496032424398080_n

Os bebês que são amamentados em seio materno devem fazê-lo exclusivamente até o sexto mês, sem necessidade de outros alimentos ou líquidos e em livre demanda.

Mas, você sabe o que é isso? A livre demanda é amamentar sem horários rígidos, de acordo com a vontade do bebê. Mas a essência da Livre Demanda vai muito além dos ponteiros do relógio.

Aqui compartilho um texto que gosto muito sobre o tema. Espero que gostem!

 

“A Frequência e a Duração das Mamadas, do livro “Un Regalo Para Toda La Vida” do Dr. Carlos González.

Provavelmente, você já escutou que o peito se dá a demanda. Mas é fácil que lhe tenham explicado mal. É muito difícil erradicar da nossa cultura essa obsessão coletiva com os horários das mamadas. Parece que sempre foi assim. Alguns, ao ouvir falar da livre demanda, acham que é um invento dos hippies e com semelhante despropósito vamos criar uma geração de selvagens indisciplinados. Mas é justo o contrário, dar o peito à demanda é que sempre foi assim e os horários são uma invenção moderna. É verdade que algum médico romano já havia falado de horários, mas foi um caso isolado e naquele tempo as mães não perguntavam aos médicos como tinham que dar o peito. Praticamente todos os médicos do séc.XVIII recomendavam a amamentação a demanda (ou não recomendavam nada, porque, como a amamentação não é uma doença, os médicos não se ocupavam muito desse tema). Só a princípios do séc.XX começaram quase todos os médicos a recomendar um horário e mesmo assim poucas mães o seguiam, porque não havia saúde pública e os pobres não iam ao médico se não estivessem muito doentes. Só quando as visitas ao pediatras começaram a converter-se numa cerimônia regular, em meados do século passado, começaram as mães a tentar seguir um horário, com péssimos resultados. Muita gente (mães, familiares, médicos ou enfermeiras) lê ou ouve isso de livre demanda e pensa: “Sim, claro, não é necessário ser rígidos com as três horas. Se chora 15 min. antes, pode-se dar o peito e também não é necessário acordá-lo se está dormindo”. Ou então: “Sim, claro, a demanda, como sempre disse, nunca antes de duas horas e meia nem mais tarde que quatro”. Tudo isso não é a demanda; são só horários flexíveis, que claro que não são tão ruins como os horários rígidos, mas continuam causando problemas. Livre demanda significa em qualquer momento, sem olhar o relógio, sem pensar no tempo, tanto se o bebê mamou faz 5 horas quanto se mamou faz 5 minutos. Mas, como pode ter fome aos cinco minutos? Imagine que está criando o seu filho com mamadeira. Ele costuma tomar 150ml e, de repente, um dia, o bebê só toma 70 ml. Se aos cinco minutos, parece que tem fome, você dá os 80 ml ou pensa: “Como pode ter fome se faz só cinco minutos que tomou a mamadeira?”. Tenho certeza que todas as mães dariam a mamadeira sem duvidar um único minuto, de fato, muitas passariam mais de uma hora tentando meter a mamadeira na boca do bebê a cada cinco minutos. Pois bem, se um bebê solta o peito e ao cabo de cinco minutos parece ter fome, pode ser que só tenha mamado a metade. Talvez tenha engolido ar e se sentia
incômodo e agora que arrotou já pode continuar mamando. Talvez tenha se distraído ao ver uma mosca e agora a mosca já se foi e ele percebeu que ainda tem fome. Talvez tenha se enganado, achou que estava satisfeito e agora mudou de opinião. Em todo caso, só esse bebê, nesse momento, pode decidir se precisa mamar ou não. Um especialista que escreveu um livro na sua casa no ano passado ou faz um século, ou a pediatra que viu o bebê na quinta passada e lhe recomendou um horário não podem saber que seu filho hoje, às 14:45 da tarde ia ter fome. Isso seria atribuir-lhes poderes sobrenaturais. E qual o tempo máximo? É preciso acordá-los? Quantas horas podem estar sem mamar? Em princípio, as horas que queira. Um bebê saudável, que engorda normalmente, não precisa ser acordado. É distinto o caso de um bebê que está doente ou não aumenta normalmente de peso. Um bebê pode estar tão fraco que não tem força para pedir o peito. Nesses casos, é preciso oferecer o peito com mais frequência. Isso também pode aplicar-se aos recém-nascidos. Quando o bebê dorme muito, muitas vezes não é preciso acordá-lo, mas sim estar atento aos seus sinais de fome. A demanda não significa dar o peito cada vez que chore. O choro é um sinal tardio de fome. Do momento que uma criança maior tenha fome até que chore podem passar várias horas. Do momento que um bebê tem fome até que chore podem passar alguns minutos, ou até mais, dependendo da personalidade do bebê. Mas é raro, que nada mais ter fome, comece a chorar. Antes disso terá mostrado sinais precoces de fome: uma mudança no nível de atividade (acordar, mexer-se), movimentos com a boca, movimentos de procura com a cabeça, barulhinhos, por as mãozinhas na boca, então, é quando se deve pô-lo no peito, não esperar que chorem. Se um bebê que está fraco porque perdeu peso está sozinho no seu quarto, fora da vista dos seus pais, é provável que dê estes sinais e ninguém perceba e ele volte a dormir por cansaço. Dar o peito à demanda não significa que mame o que mame o bebê, sempre seja normal. Pois bem, também existem valores normais para a frequência e a duração das mamadas. O problema é que não sabemos quais os valores normais para o ser humanos. Porque o ser humano vive em sociedades, em civilizações, com nossas crenças e normas. As espanholas, há trinta anos, davam o peito dez minutos cada quatro horas. Não faziam o que queriam o normal, mas sim o que havia indicado o médico ou o livro. Se no Alto Orinoco existe uma tribo que dá o peito cinco minutos a cada hora e meia, isso é o natural ou é o que recomenda o xamã da tribo? Inclusive dentro da Europa há diferenças. Num estudo multinacional sobre crescimento dos bebês, observaram com surpresa que o número médio de mamadas ao dia aos dois meses de idade ia desde 5,7 em Rostock (Alemanha) até 8,5 no Porto, passando por 6,5 em Madrid ou 7,2 em Barcelona. Mulheres de cultura muito similar, que supostamente estão dando o peito à demanda. Como é possível que os bebês demandem mais peito num país que no outro? A resposta é simples, mas inquietante. Acontece que a amamentação a demanda, o conceito em torno do qual gira esse livro não existe. Não existe porque os bebês não sabem falar. Se um bebê falasse, um observador imparcial poderia certificar: “Efetivamente, essa mãe está dando o peito à demanda”, porque às 11:23 a menina disse: “Mamãe, peito” e às 11:41 voltou a pedir, mas não lhe deu o peito até que pediu por terceira vez, às 11:57. Como os bebês não falam, fica a critério da mãe decidir
quando está demandando ou não. Dois bebês choram, uma mãe lhe dá o peito no mesmo instante e a outra olha o relógio e diz: “Fome não é, porque não faz nem uma hora e meia que mamou, devem ser os dentes” e lhe dá um mordedor. Dois bebês mexem a cabecinha e a boca procurando peito. Uma mãe dá o peito, a outra nem percebe porque o bebê estava no berço e a mãe não o via. Dois bebês dizem: “angu”. Uma mãe pensa: “Ui, já acordou” e o põe no peito e a outra o olha embevecida e diz: “que lindo, já diz angu!”. Por último, recordar que à demanda não só significa quando o bebê quer, mas também quando a mãe quer. É claro que as necessidades de um recém-nascido são totalmente prioritárias. Mas, à medida que o bebê cresce cada vez sua mãe tem mais possibilidades de decidir quando dá o peito ou não. Vale ressaltar que um horário rígido é inadequado em qualquer idade e sempre convém que o bebê decida a maioria das mamadas. Mas não há problemas em adiantar ou atrasar um pouco alguma das mamadas. Assim que, ao contrário do que muita gente pensa, a livre demanda não é uma escravidão, mas sim uma liberação para a mãe. A maioria das vezes pode fazer o que quer o seu filho, de modo que o bebê está feliz e não chora e, portanto, a mãe também está feliz e não chora. E de vez em quando pode fazer o que ela quer. A escravidão é o relógio. Amamentação a La Carte Amamentação em intervalos pré-determinados é um mito. Houve um tempo em que se pensava que bebês deveriam mamar a cada 3 horas, ou a cada 4 horas e por exatamente 10 minutos de cada lado! Você já se perguntou o porquê de 10 minutos e não 9 ou 11? Claro, adultos nunca comem por “10 minutos em cada prato a cada 4 horas”. Quanto tempo a gente leva para terminar o prato? Isso depende do quão rápido a gente come. É o mesmo com bebês. Se eles mamam rápido, podem gastar menos que 10 minutos, mas se mamam devagar, podem gastar bem mais. Os adultos comem em horários pré-determinados somente porque as obrigações de trabalho forçam-nos a organizar suas refeições desta forma. Normalmente, nos dias de folga, a rotina usual é mudada sem qualquer dano à saúde. Contudo, ainda existem pessoas que acreditam que os bebês precisam ser acostumados a mamadas de horário e fazem referências vagas à disciplina ou boa digestão. Para um adulto, a comida pode esperar. Nosso metabolismo permite que esperemos por uma refeição e a comida é exatamente a mesma agora ou daqui à uma hora. Mas seu bebê não pode esperar. Sua fome é urgente e a comida dele muda se a refeição se atrasa. O leite humano não é um alimento morto, mas uma matéria viva em constante processo de mudança. A quantidade de gordura no leite aumenta à medida que a amamentação progride. O leite do início da mamada tem baixo conteúdo gorduroso e o leite do final é altamente rico em gordura; chegando a ser 5 vezes mais gordo.
A média de gordura em qualquer mamada depende de quatro fatores: 1. Intervalo da mamada anterior (quanto maior o intervalo, menor a quantidade de gordura); 2. Concentração de gordura no final da mamada anterior; 3. Quantidade de leite ingerido na última mamada; 4. Quantidade de leite ingerido nesta mamada. Quando a criança mama os dois seios, ela raramente esvazia o segundo seio. Para simplificar, basta dizer que ela toma 2/3 de leite desnatado e 1/3 de creme de leite. Contudo, a criança que mama somente um seio por mamada toma ½ leite desnatado e ½ creme de leite. Se ela toma um leite menos gordo (menos calórico), ela pode aceitar grandes volumes e consumir mais proteínas. Então o bebê que mama 50 ml de cada seio não mama o mesmo que um que toma 100 ml de um seio só; e a dieta do bebê que toma 80 ml a cada 2 horas é totalmente diferente da dieta do bebê que toma 160 ml a cada 4 horas. Os fatores que controlam a composição do leite ainda estão sendo estudados e ainda não se sabe muita coisa. Por exemplo, sabe-se que um dos seios geralmente produz mais leite, com maior concentração de proteínas que o outro. Talvez seja só coincidência ou talvez seu filho decida isso, dando preferência a um seio em relação ao outro, escolhendo uma refeição com mais ou com menos calorias. E você pensou que seu bebê mamasse sempre o mesmo leite? Você pensava que era entediante passar meses e meses tomando somente leite? Isso não é verdade com o leite materno. Seu bebê tem à disposição dele um grande cardápio para escolher, desde sopa leve a uma sobremesa bem cremosa. Uma vez que o seio não fala (nem pode entender o bebê), o bebê faz seu pedido de 3 formas: 1. Pelo tanto de leite que ele toma a cada mamada (mamando por um longo ou curto tempo e com mais ou menos intensidade); 2. Pelo intervalo entre uma mamada e outra; 3. Mamando um ou os dois seios. O que seu bebê faz quando mama para obter exatamente o que ele precisa de um dia para o outro é uma obra de engenharia. O bebê tem total e perfeito controle da sua dieta, desde que ele possa mudar as variáveis de acordo com seu desejo. É isso que a livre demanda significa: deixar o bebê decidir quando ele quer mamar, por quanto tempo ele vai ficar no seio e se ele quer mamar um ou os dois seios. Quando o bebê não tem o direito de controlar um dos mecanismos, na maioria das vezes ele tenta mudar uma ou outra variável. Num experimento, alguns bebês foram colocados para mamar somente em um seio por mamada, durante uma semana e nos dois seios na semana seguinte (a ordem foi variável). Em teoria, os bebês teriam ingerido muito mais gordura nos dias em que mamaram somente de um lado do que quando mamaram nos dois seios. Contudo, os bebês espontaneamente modificaram a frequência e a duração das mamadas e foram capazes de ingerir quantidades similares de gordura (mas volumes diferentes de leite). Se o bebê não tem a chance de modificar a frequência ou duração das mamadas e ele não tem a oportunidade de decidir se quer mamar de um lado ou dos dois, ele fica perdido. Ele não consegue tomar a quantidade de leite de que precisa, mas acaba
tomando o que lhe é oferecido. Se a sua dieta está muito longe das necessidades reais do bebê, ele terá problemas em ganhar apropriadamente ou passará o dia faminto e irritado. É por isso que amamentação em horários pré-estabelecidos raramente funciona e quanto mais rígido for o esquema, mais catastrófico é o resultado. Os bebês precisam mamar irregularmente, somente assim eles têm uma dieta balanceada. Desde o primeiro dia, embora pareça que ela está tomando somente leite, a criança está escolhendo sua dieta a partir de uma gama de opções e ela sempre escolhe sabiamente, tanto na qualidade, quanto na quantidade. Do livro “Mi niño no me come”, do Pediatra Carlos González”

 

Inicio

O “Escola de Peito” foi idealizado para ajudar mães que precisam deixar seus bebês na volta ao trabalho a encontrarem escolinhas e berçários que são engajadas e comprometidas com o processo de amamentação continuada.

O foco principal é contribuir com o preparo dos profissionais e adequação dessas escolas, berçários ou creches para o acolhimento e suporte a essas mães que precisam deixar seus bebês, mas desejam continuar amamentando, com o objetivo de fazer da própria escola um local de referência para a promoção do aleitamento materno, ajudando a vencer medos, estimular a autoconfiança materna, difundir valores, garantir o oferecimento do leite materno de forma segura e adequada, acolher e esclarecer dúvidas que possam surgir com a separação de mãe e bebê e como a escola pode ser uma ponte importante para a manutenção da amamentação nesse contexto.

O nome “Escola de Peito” foi cuidadosamente escolhido como referência para o vínculo que desejamos manter como elo fortalecido entre escola e família no que tange a promoção do aleitamento materno. O nome também reforça a alusão a coragem e orgulho em fazer conhecidos os benefícios da amamentação ao longo dos primeiros meses e anos de vida e fazer parte desta iniciativa escolar que incentiva, proporciona e facilita o aleitamento materno entre seus alunos, iniciativas estas ainda muito pouco difundidas entre escolas infantis.

Venha se tornar uma “Escola de Peito”!